Ontem perdi meu tio Inacinho pra um conjunto de doenças que acometem os de mais idade que tiveram uma vida mais descuidada e muito extravagante.
E eu não estou falando dos porres ocasionais no fim-de-semana ou de apenas trocar a noite pelo dia.
Tio Inacinho era um camarada meio abusado, mesmo. Nunca se cuidou. Sempre bebeu muito e fumou muito, além de ignorar completamente o diabetes e a pressão alta, além dos problemas do fígado.
Mesmo assim, deu um baile no porteiro do céu: fez o cara esperar mais de três meses.
Nesses três meses, eu tentei lembrar das coisas que faziam meu coração doer, enquanto ele ia minguando.
Um som: a risada rouca.
Um sabor: Suflair.
Um cheiro: alguns cheiros. Fumaça de cigarro e todos os cheiros do sítio.
Ele levava a gente pro sítio, pra pescar na lagoa e conhecer os bichinhos. Ensinou que é preciso silêncio pra uma boa pescaria, e que é perigoso ficar atrás do bezerro quando você quer tirar o bicho da horta.
Uma vez, eu fiquei muito zangada com ele, porque ele queria de todo jeito me montar numa vaca e eu fiquei com medo. E ele riu, mas não de um jeito perverso, só achou graça.
E, ontem, lá deitado não parecia nada com ele.
Eu sei que vai diminuir, logo até.
Mas tá doendo.
Um comentário:
Lamento, Golden. Mas, como você mesma disse, esta dor, embora dura, passa. Sei bem disto.
Vai passar também para ti.
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